Dra. Aknar Calabrich, oncologista no AMO/DASA e Líder Nacional da Oncologia Torácica, e a Dra. Fabiana Viola, oncologista clínica, mestre em Neurociências pela PUCRS e responsável técnica pelo Serviço de Oncologia do Hospital São Lucas da PUCRS (Porto Alegre), discutem os resultados do estudo INDIGO, de fase 3, randomizado e duplo-cego, publicado no New England Journal of Medicine.
A Dra. Aknar comenta que o estudo INDIGO avaliou a eficácia do vorasidenibe — um inibidor oral seletivo das mutações IDH1 e IDH2 — em pacientes com glioma grau 2, com mutações em IDH1 ou IDH2, em situação de doença residual ou recorrente, após cirurgia realizada nos últimos cinco anos. A especialista explica que o estudo incluiu 331 pacientes assintomáticos, que não eram elegíveis naquele momento para tratamento com radioterapia ou quimioterapia e que estavam sob vigilância (“watch and wait”).
Dra. Aknar detalha que os participantes foram randomizados para receber vorasidenibe 40 mg/dia ou placebo, em ciclos de 28 dias, até progressão da doença ou surgimento de toxicidade limitante, sendo permitido o crossover para o grupo ativo em caso de progressão. Ela destaca ainda que as mutações IDH são características comuns nesse subtipo de glioma e estão associadas a alterações metabólicas que resultam no acúmulo de 2-hidroxiglutarato, o que contribui para a transformação maligna das células.
Comentando os resultados, a especialista enfatiza que houve um benefício clínico expressivo com o uso do vorasidenibe. A sobrevida livre de progressão (PFS) foi significativamente maior no grupo tratado, alcançando 27,7 meses, em comparação a 11,1 meses no grupo placebo — uma redução de 61% no risco de progressão ou morte. Além disso, ela ressalta que o tempo até a necessidade de uma nova intervenção (como cirurgia, radioterapia ou quimioterapia) também foi significativamente prolongado, com redução de 74% nesse risco.
Dra. Calabrich comenta ainda que um dado secundário, mas bastante relevante, foi a desaceleração da velocidade de crescimento tumoral, sugerindo o potencial da droga em controlar a biologia do tumor de forma eficaz. Quanto à segurança, ela aponta que o perfil foi favorável: eventos adversos de grau 3 ou mais ocorreram em 22% dos pacientes, sendo o mais comum a elevação de ALT, com uma baixa taxa de descontinuação do tratamento (4%).
Com base no caso clínico apresentado pela Dra. Fabiana Viola, o vorasidenibe representa uma mudança prática importante no manejo dos gliomas IDH-mutados grau 2. Em pacientes jovens, como o relatado — com lesão residual mínima, quadro neurológico estável e características de risco intermediário — a droga oferece uma alternativa eficaz à espera passiva, com potencial de evitar intervenções mais agressivas. A Dra. Fabiana comenta que a radioterapia, especialmente em pacientes jovens, pode ter impacto negativo cognitivo a longo prazo, enquanto o regime PCV (quimioterapia) apresenta toxicidade hematológica significativa e limitações logísticas. Assim, o vorasidenibe ocupa um espaço estratégico: é uma opção menos tóxica e que permite intervir no momento ideal, antes da progressão, sem comprometer a qualidade de vida do paciente.
Por fim, as especialistas comentam que as expectativas futuras em relação ao vorasidenibe são promissoras. Dados de seguimento reforçam a durabilidade dos benefícios observados e sustentam seu papel como uma nova estratégia de primeira linha para pacientes com glioma IDH-mutado grau 2. Acesse o vídeo completo!
Referências:
1. SCHAFF, Lauren R. et al. State of the Art in Low-Grade Glioma Management: Insights From Isocitrate Dehydrogenase and Beyond. American Society of Clinical Oncology Educational Book, v. 44, n. 3, p. e431450, 2024.
2. MELLINGHOFF, Ingo K. et al. Vorasidenib in IDH1-or IDH2-mutant low-grade glioma. New England Journal of Medicine, v. 389, n. 7, p. 589-601, 2023
3. LOUIS, David N. et al. The 2021 WHO classification of tumors of the central nervous system: a summary. Neuro-oncology, v. 23, n. 8, p. 1231-1251, 2021.
4. Bula profissional de saúde - vorasidenibe. v.SC001 [agosto/2025]. Laboratórios Servier do Brasil Ltda.
5. O’LEARY, Karen. A new targeted therapy for low-grade glioma. Nature Medicine, 2023.
6. RUDÀ, Roberta et al. IDH inhibition in gliomas: from preclinical models to clinical trials. Nature Reviews Neurology, p. 1-13, 2024.
7. Mellinghoff IK., et al. Presented at the 29th Annual Scientific Meeting and Education Day of the Society for Neuro-Oncology (SNO), Nov 21–24, 2024, Houston, TX, USA

Escrito por Oncologia Brasil
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