Retirar a aspirina cedo demais em pacientes récem-submetidos à intervenção coronária percutânea (ICP) pode custar caro: resultados do NEO-MINDSET acendem sinal de alerta.
Durante o congresso da European Society of Cardiology (ESC) 2025, foram apresentados os resultados do estudo NEO-MINDSET, um ensaio clínico multicêntrico conduzido em 50 centros no Brasil que avaliou a suspensão precoce da aspirina em pacientes com síndrome coronariana aguda (SCA) submetidos a intervenção coronária percutânea (ICP) com stent farmacológico. A estratégia consistiu em interromper a aspirina logo após a ICP e manter apenas um inibidor potente de P2Y12 (prasugrel ou ticagrelor), em comparação à terapia antiplaquetária dupla padrão (aspirina associada a um P2Y12 potente por 12 meses). Foram incluídos 3.410 pacientes, randomizados em até quatro dias após a hospitalização.
Os resultados mostraram que o desfecho composto de morte, infarto, AVC ou revascularização urgente ocorreu em 7,0% dos pacientes tratados apenas com inibidor de P2Y12, em comparação a 5,5% daqueles em terapia dupla (HR 1,28; IC95% 0,98–1,68), não atingindo o critério de não inferioridade pré-estabelecido. Por outro lado, os eventos de sangramento maior ou clinicamente relevante foram menos frequentes no grupo de monoterapia (2,0% vs. 4,9%; HR 0,40; IC95% 0,26–0,59). Importante notar que houve maior ocorrência de trombose de stent entre os pacientes que receberam apenas o P2Y12, concentrada principalmente nas primeiras semanas após a intervenção.
Do ponto de vista clínico, o NEO-MINDSET é relevante por ser o primeiro grande estudo a testar a retirada imediata da aspirina em pacientes exclusivamente com SCA, mas seus achados reforçam a necessidade de cautela. Embora a estratégia tenha reduzido o risco de sangramento, a tendência a maior risco isquêmico, especialmente no período inicial, levanta preocupações quanto à segurança. Assim, a suspensão precoce da aspirina não deve ser considerada como prática de rotina nesta população, permanecendo a terapia antiplaquetária dupla como padrão de tratamento. Estratégias de descalonamento ou retirada tardia da aspirina, já exploradas em outros ensaios, podem continuar a ser alternativas para casos selecionados.
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Referências:
Guimarães PO, et al. Early Withdrawal of Aspirin after PCI in Acute Coronary Syndromes. New England Journal of Medicine. Published online August 31, 2025. doi:10.1056/NEJMoa2507980.

Escrito por MDHealth
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