ESC® 2025 – Ensaios recentes em insuficiência cardíaca: novas perspectivas e desafios

Três grandes estudos apresentados no ESC® 2025 (DAPA ACT HF-TIMI 68, VICTOR e ODYSSEY-HCM) exploram diferentes faces da insuficiência cardíaca, do manejo da fase aguda às opções terapêuticas em condições específicas.

O estudo DAPA ACT HF-TIMI 68 avaliou a dapagliflozina em pacientes hospitalizados por insuficiência cardíaca, testando a hipótese de que o início precoce do tratamento poderia reduzir eventos no curto prazo. Embora o ensaio não tenha demonstrado redução significativa no desfecho primário composto de morte cardiovascular ou piora da insuficiência cardíaca em dois meses, a análise em conjunto com outros estudos de inibição do SGLT2 sugere um potencial benefício em mortalidade precoce nesse cenário, reforçando a discussão sobre iniciar a classe ainda durante a hospitalização.

O ensaio VICTOR, publicado no Lancet, investigou o vericiguat em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (HFpEF). Apesar da expectativa

gerada pela modulação da via do GMPc, o fármaco não alcançou superioridade em relação ao placebo na melhora de capacidade funcional medida por VO₂ de pico, tampouco nos escores de qualidade de vida, indicando que o desafio terapêutico no HFpEF permanece em aberto.

Já o ODYSSEY-HCM, estudo de fase 3 publicado no New England Journal of Medicine, analisou o uso de mavacamten em pacientes com miocardiopatia hipertrófica não obstrutiva sintomática, condição que frequentemente cursa com sintomas semelhantes à insuficiência cardíaca. Após 48 semanas, o fármaco não promoveu melhora significativa na capacidade funcional (VO₂ de pico) nem nos sintomas em comparação ao placebo, embora tenha reduzido marcadores laboratoriais de estresse cardíaco.

O estudo também chamou atenção para os efeitos de queda de fração de ejeção associados ao tratamento.

Em conjunto, esses três ensaios destacam tanto os avanços quanto as limitações atuais da terapêutica na insuficiência cardíaca. Enquanto a estratégia de iniciar precocemente SGLT2i em hospitalização mostra consistência no benefício global, outras abordagens como o vericiguat no HFpEF e o mavacamten na forma não obstrutiva da miocardiopatia hipertrófica reforçam a complexidade e a heterogeneidade dessa síndrome, apontando para a necessidade de seguirmos explorando alvos fisiopatológicos distintos.

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Referências:

1- Berg DD, Patel SM, Haller PM, et al. Dapagliflozin in Patients Hospitalized for Heart Failure: Primary Results of the DAPA ACT HF-TIMI 68 Randomized Clinical Trial. Circulation. 2025. doi:10.1161/CIRCULATIONAHA.125.076575.

2- Armstrong PW, Lam CSP, Anker SD, et al. Vericiguat for heart failure with preserved ejection fraction (VICTOR). Lancet. 2025. doi:10.1016/S0140-6736(25)01665-4.

3- Desai MY, Owens AT, Abraham T, et al. Mavacamten in Symptomatic Nonobstructive Hypertrophic Cardiomyopathy. N Engl J Med. 2025. doi:10.1056/NEJMoa2505927.