Doenças Raras na Infância: Terapia com Hormônio do Crescimento em Pacientes com Síndrome de Loeys-Dietz

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11 fev, 2025

Estudo de caso avalia a eficácia e segurança do tratamento prolongado com rGH em uma paciente com SLD tipo 2 e deficiência de hormônio do crescimento

 

A Síndrome de Loeys-Dietz (SLD) é uma doença genética rara que pode se manifestar em qualquer idade, mas é mais comumente diagnosticada na infância. Trata-se de uma condição que afeta múltiplos sistemas do organismo, incluindo os sistemas vascular, craniofacial, esquelético e cutâneo. Suas principais características incluem aneurismas arteriais, tortuosidade arterial e alterações craniofaciais e esqueléticas. Em crianças, a SLD pode se apresentar com sinais como hipermobilidade articular, pele fina e translúcida, fenda palatina ou bífida, pé torto congênito e escoliose progressiva. Além disso, devido ao comprometimento multissistêmico, alguns pacientes podem apresentar baixa estatura e desenvolvimento físico prejudicado. 

A SLD foi descrita pela primeira vez apenas em 2005 e, por ser uma condição relativamente recente na literatura médica, ainda há poucos estudos clínicos avaliando a eficácia de novos tratamentos. Atualmente, não existe cura para a síndrome, e seu manejo requer uma abordagem multidisciplinar, envolvendo especialistas de diversas áreas, como cardiologia, ortopedia, genética, imunologia e gastroenterologia. Sendo que o objetivo principal do tratamento costuma ser minimizar os riscos de complicações cardiovasculares e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. 

Geneticamente, a SLD é uma doença autossômica dominante causada por mutações nos genes da via de sinalização do fator de crescimento transformador β (TGF-β), uma citocina que atua em processos como angiogênese, apoptose e regulação da produção de proteínas da matriz extracelular. A doença é classificada em cinco subtipos de acordo com o gene afetado, sendo que as mutações no gene TGFβR2, correspondentes ao subtipo 2, representam a forma mais frequente da doença. 

Nesse contexto, um estudo observacional recente analisou a eficácia e segurança do tratamento com hormônio de crescimento recombinante (rGH) ao longo de quase oito anos em uma paciente pediátrica com SLD tipo 2 e deficiência concomitante de hormônio de crescimento. A terapia com rGH se mostrou especialmente promissora, pois o GH está envolvido no desenvolvimento cardíaco, na manutenção da estrutura do endotélio vascular e na elasticidade da parede da aorta. O tratamento foi iniciado aos 6,5 anos de idade, com acompanhamento contínuo por especialistas em endocrinologia, cardiologia e genética. 

Durante o tratamento, a paciente apresentou uma melhora significativa em sua altura padronizada (SDS, Standard Deviation Score), que passou de -2,4 para -1,4, atingindo 155 cm aos 16,5 anos. Esse crescimento sugere que a terapia possibilitou a recuperação de seu potencial de crescimento. Além do impacto direto na estatura, os pesquisadores destacaram os efeitos positivos do GH no metabolismo, na estabilização da parede vascular e na força muscular, contribuindo para uma melhora na composição corporal e no desenvolvimento psicomotor da paciente. 

No entanto, exames de imagem realizados desde os 16 meses de idade indicavam uma dilatação progressiva da raiz aórtica, um dos principais riscos da SLD. Aos 16 anos, a paciente apresentou um Z-score de +5,95 na aorta, indicando dilatação significativa e levando à necessidade de uma cirurgia plástica corretiva. Os autores do estudo discutiram o possível impacto da administração de rGH na integridade vascular, visto que a via do TGF-β está envolvida tanto no crescimento celular quanto na homeostase vascular. Há preocupações de que um aumento suprafisiológico na concentração de IGF-1, induzido pela terapia com rGH, possa contribuir para a ampliação do diâmetro da aorta. 

Apesar dessa preocupação, o estudo enfatiza que o tratamento foi conduzido sob monitoramento rigoroso da função cardiovascular da paciente, com controle da relação IGF-1/IGFBP-3 (proteína de ligação ao IGF-1) para minimizar possíveis impactos adversos no tecido vascular. Embora a paciente tenha necessitado de cirurgia aórtica, os pesquisadores não puderam estabelecer uma relação causal definitiva entre a administração de rGH e a progressão da dilatação aórtica, levantando a possibilidade de que essa alteração possa ser uma manifestação natural da SLD.  

Esse estudo é o primeiro a documentar os efeitos de longo prazo da terapia com rGH em um paciente com SLD. Os resultados sugerem que o hormônio de crescimento pode ser uma opção terapêutica viável para pacientes com SLD e deficiência de GH, desde que haja uma avaliação multidisciplinar criteriosa e monitoramento cardíaco intensivo. No entanto, são necessários estudos adicionais para compreender melhor a relação entre IGF-1, crescimento e segurança vascular em indivíduos com doenças do tecido conjuntivo. 

Como a Síndrome de Loeys-Dietz foi descrita recentemente, ainda não há relatos suficientes sobre tratamentos que possam ser curativos para a doença como um todo. Por isso, a abordagem segue sendo multidisciplinar e personalizada. Pesquisas futuras poderão aprofundar o entendimento sobre as interações entre hormônios de crescimento e a estabilidade do tecido conjuntivo, contribuindo para avanços na gestão clínica desses pacientes e ampliando as possibilidades terapêuticas disponíveis. 

Doenças raras

Referências

  • Dyrka K, Jamsheer A, Bartecki M, Bobkowski W, Pawelec-Wojtalik M, Rajewska-Tabor J, et al. Efficacy and safety of recombinant growth hormone therapy in a girl with LoeysDietz syndrome. Front Cardiovasc Med. 2025;11. doi:10.3389/fcvm.2024.1377510
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